segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

http://www.youtube.com/watch?v=eocyWcml6zE
http://globotv.globo.com/rede-bahia/aprovado/v/ricardo-carvalho-foi-ate-banzae-conhecer-a-cultura-dos-indios-kiriri/2307192/

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

CORDEL - ACULTURAÇÃO

A cultura de um povo
Não pode ser esquecida
Como está acontecendo
No decorrer de nossa vida
O forte impõe ao fraco
E o fraco nem se esquiva.

Não há cultura melhor
Nem também superior
O povo que preservar
Ganhará a seu favor
A cultura de um povo
É fonte de muito valor.

Não adianta se iludir,
Pra que se enganar?
Cada um tem jeito único
E a cultura é singular
O povo vai progredir
Se a cultura preservar.

O povo que imita outro
Procurando ser igual
Jamais será como outro
E deixará de ser o tal
É como ser uma cópia
Não será original.

Já que estamos nesse mundo
Em constante ligação
Jamais se pode evitar
A tal aculturação
Mas não se deve é perder
A sua própria condição.

Então qual é a solução
Pra não perder a estrutura?
Nesse mundo globalizado
Não existe vivência pura
Temos que aprender com o outro
Preservando a própria CULTURA.

Osvaldo Morais

sábado, 11 de outubro de 2014


                     CASAMENTO NA TRIBO KIRIRI



                         



             

                       





                       





                  





                     












sexta-feira, 10 de outubro de 2014

O ritual do Toré


Em 1974, líderes kiriri organizaram uma caravana com cerca de cem índios à Terra Indígena Tuxá, localizada em Rodelas, norte da Bahia, em princípio para realizar um jogo de futebol entre os dois povos, mas já com a clara intenção de assistir ao ritual Toré realizado por aqueles índios e aprendê-lo. O Toré é parte de um conjunto mais amplo de crenças - no centro do qual se encontra a jurema - que, muito provavelmente, podem vir a ser agrupadas em um complexo ritual comum aos povos do sertão (Cf. Nascimento, 1994). Entre os índios no Nordeste, o Toré representa um símbolo de união e de etnicidade, fornecedor de elementos ideológicos de unidade e de diferenciação e, portanto, fonte de legitimação de objetivos políticos.

O processo de adoção do Toré é melhor viabilizado no plano simbólico, por um lado, pela sua relação com certas práticas xamanísticas então vigentes entre os Kiriri, selecionadas com atenção ao critério de representatividade étnica. Com a entrada em cena do Toré, essas práticas foram progressivamente deslegitimadas e os que não se adaptaram aos procedimentos utilizados no ritual, que não "aliam seus guias aos guias do Toré", foram marginalizados, impedidos de "trabalhar".

Sobre a estrutura do Toré aprendido, os Kiriri introduziram novos elementos: seus "encantados" (seres sobrenaturais), acrescentados àqueles tomados de empréstimo dos Tuxá, progressivamente assumiram lugar de destaque; ao repertório melódico original, os Kiriri adicionaram seus próprios toantes e mesmo as bases coreográfica e de vestuário têm passado por inovações (Martins, 1985).

O Toré é geralmente realizado aos sábados à noite - com uma interrupção apenas nos períodos da quaresma - em amplos terreiros junto aos quais há sempre algum recinto fechado, onde se deposita o pote com a "jurema" e se desdobram as seqüências privadas do ritual. A cerimônia tem início com a concentração de pessoas nas imediações do terreiro e no recinto fechado onde principia a defumação que, em seguida, se estenderá ao terreiro, através de grandes cachimbos de madeira de formato cônico, com desenhos em relevo. Inicia-se também aí a ingestão da "jurema", que se intensificará durante a dança, distribuída sempre pelo conselheiro local ou por outra figura de relevo na hierarquia ritual e política. Passando-se ao terreiro, prosseguem os trabalhos de "limpeza", comandados pelo pajé, quando então, através do uso de apitos, os "encantados" são convidados a participar. Começam os cantos e as danças, inicialmente em fila indiana, com o pajé à frente, seguido pelos homens, mulheres e crianças, nesta ordem. A fila serpenteia pelo terreiro em movimentos progressivamente elaborados à medida em que os toantes se sucedem, intensificando o envolvimento dos participantes, até o clímax que sobrevém com a "chegada" dos "encantos", perceptível nos evidentes sinais de incorporação apresentados pelas "mestras".

A esta altura, as disposições se alteram e a hierarquia horizontal da fila indiana cede lugar a movimentos em torno dos encantos, que ocupam posição central no terreiro e pouco se deslocam, enquanto principiam a falar numa língua pretensamente indígena, ritual que consiste numa seqüência de sons bastante recorrentes e incompreensíveis para os Kiriri de hoje. São, em seguida, conduzidos ao recinto - a "camarinha" - onde serão consultados com relação aos mais diversos temas, fornecendo conselhos de caráter genérico, que, via de regra, reproduzem os ideais de unidade do grupo. Os interlocutores e intérpretes principais das suas mensagens são as lideranças políticas dos Kiriri e, em especial, os pajés (Rocha Jr., 1983).


Fontes de informação

  • BANDEIRA, Maria de Lourdes. Os Kariris de Mirandela : um grupo indígena integrado. Salvador : UFBA, 1972. 172 p. (Estudos Baianos, 6)

  • BRASILEIRO, Sheila dos Santos. O “caso Kiriri”. In: ESPIRITO SANTO, Marco Antônio do (Org.). Política indigenista : Leste e Nordeste brasileiros. Brasília : Funai, 2000. p. 79-86.

--------. Organização política e o processo faccional no povo indígena Kirirí. Salvador : UFBA, 1995. (Dissertação de Mestrado)

  • --------. Povo indígena Kiriri : emergência étnica, conquista territorial e faccionalismo. In: OLIVEIRA FILHO, João Pacheco de (Org.). A viagem de volta : etnicidade, política e reelaboração cultural no Nordeste indígena. Rio de Janeiro : Contra Capa, 1999. p. 173-96. (Territórios Sociais, 2)

--------; SAMPAIO, José Augusto Laranjeiras. Os povos indígenas na Bahia. Salvador : Anai-BA, s.d.

  • CARDIM, Fernão. Tratados da terra e gente do Brasil. São Paulo : Ed. Nacional ; Brasília : INL, 1978. 266 p. (Brasiliana, 168).

  • CORTES, Clelia Neri. A educação é como o vento : os Kiriri por uma educação pluricultural. Salvador : UFBA, 1996. 158 p. (Dissertação de Mestrado).

--------; MOTTA, Erimita (Orgs.). História da reconquista de Mirandela - História à varias vozes. Brasília : UFBA, 2000. 31 p.

  • GERLIC, Sebastián (Ed.). Índios na visão dos índios - Kiriri. Salvador : Índios na Visão dos Índios, 2003.

  • MARTINS, Marco Aurélio. O toré na Lagoa Grande. Salvador : s.ed., 1982. (paper).

  • MASCARENHAS, Maria Lúcia Felício. Rio de sangue, ribanceira de corpos : 1893/1897, Kirirí e Kaimbé em Canudos. Salvador : UFBA, 1995. (Monografia Bacharelado em Antropologia)

  • NASCIMENTO, Marco Tromboni. O tronco da jurema : ritual e etnicidade entre os povos indígenas no Nordeste - o caso Kiriri. Salvador : UFBA, 1994.

  • REESINK, Edwin. Raízes históricas : a Jurema, enteógeno e ritual na história dos povos indígenas no Nordeste. In: MOTA, Clarice Novaes da; ALBUQUERQUE, Ulysses Paulino de (Orgs.). As muitas faces da Jurema : de espécie botânica a divindade afro-indígena. Recife : Bagaço, 2002. p. 61-96.

  • RIBEIRO, Eduardo Rivail. O marcador de posse alienável em Kariri : um morfema macro-jê revisitado. Rev. Liames, Campinas : Unicamp, n. 2, p. 31-48, 2002.

  • ROCHA JÚNIOR, Omar da. O índio é de menor : os Kiriri e o movimento indígena no Nordeste. Águas de São Pedro : s.ed., 1983. 26 p. (paper).

--------. O movimento Kiriri. Cadernos do Ceas, Salvador : Ceas, n.97, p.29-39, 1983.

ROSALVA, Lélia Maria Fernandes Garcia. O Posto Indígena de Mirandela. Boletim do Museu do Índio, Rio de Janeiro : Funai, n.1, 69 p., 1976.

  • SARMENTO, Paulo Souza. Atitudes e representações diante da morte : alguns elementos para uma definição da concepção de morte Kiriri. Salvador : UFBA, 1995. (Dissertação de Mestrado)

                  Língua e organização social


Falam hoje apenas o Português, embora utilizem esporadicamente alguns fragmentos do dialeto kipeá, da família lingüística Kariri.

No final da década de 1980, os Kiriri duplicaram a sua estrutura política, passando a se organizar em dois segmentos faccionais - atualmente as unidades mais efetivas da ação política formalizada no grupo - lideradas por seus respectivos caciques, pajés e conselheiros. Cada cacique é auxiliado por seus conselheiros, "chefes locais" responsáveis pela administração dos núcleos, que compreendem a menor unidade política kiriri. Historicamente, esses núcleos são as áreas nas quais esses índios foram se fixando, enquanto iam sendo rechaçados, desde o fim do aldeamento missionário, de seu centro, em Mirandela. Cada um desses núcleos, num total de seis, submete-se à autoridade de um conselheiro, secundado por um "ajudante". Os povoados, extrusados recentemente, submetem-se à autoridade dos conselheiros dos núcleos a eles adjacentes.

Entre a população kiriri, há uma migração de caráter mais ou menos permanente resultante de conflitos políticos e da fragmentação por herança. Os Kiriri realizam ainda, com relativa freqüência, migrações sazonais, verificando-se o retorno invariavelmente nas épocas de plantio e colheita. Dirigem-se principalmente a São Paulo e Rio de Janeiro, ou para regiões mais próximas, como Sergipe, ou mesmo para fazendas nas vizinhanças. Nesses locais, submetem-se a longas jornadas de trabalho, por um tempo que lhes permita a acumulação de um capital mínimo, que deverá ser reinvestido na área de origem, viabilizando assim a própria reprodução da condição camponesa
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Atividades produtivas


Os Kiriri praticam, de modo geral, uma agricultura voltada para a subsistência, comercializando, de forma esporádica e em pequena quantidade, excedentes das suas roças de cultivos temporários - compostas basicamente de mandioca, feijão e milho - e algumas verduras cultivadas nas exíguas hortas, localizadas preferencialmente nos quintais das casas de moradia. Do montante da produção, parte é aprovisionada para consumo doméstico durante o ano, parte reinvestida imediatamente em insumos e em outros artigos necessários à reprodução da unidade familiar. Outra estratégia freqüentemente utilizada é a constituição de uma pequena reserva destinada tanto à aquisição gradual de bens, quanto de sementes para o próximo plantio.

As atividades econômicas dos Kiriri se encontram, de certa forma, orientadas para o mercado regional, haja vista que a especialização dos bens produzidos, assim como a natureza da agricultura praticada, restringem as possibilidades de existência de uma economia semi-autárquica, determinando uma ativa comunicação com os centros comerciais mais próximos, aos quais os Kiriri se dirigem freqüentemente para comercializar seus produtos a fim de adquirir gêneros de primeira necessidade não produzidos localmente, tais como carne, café, óleo, açúcar, sal, além de diversos outros artigos de consumo menos imediato.

Ao mercado também se destina, com certa periodicidade, o produto da coleta de frutos silvestres, como caju, umbu e pinha, além de, mais esporadicamente, um artesanato trabalhado em cerâmica e trançados. Supõe-se, com base em informações coletadas por Bandeira em fins da década de 1970, que historicamente este artesanato tenha chegado a alcançar um peso significativo na economia kiriri, constituindo-se ainda, por outro lado, em um dos fatores de diferenciação e de discriminação étnica. Nos últimos anos, fruto da intensificação do contato entre povos indígenas, os Kiriri passaram a produzir, embora em pequena expressão, colares e outros adereços semelhantes àqueles comercializados pelos Pataxó, em Porto Seguro e Santa Cruz Cabrália.

Os ciclos de plantio e colheita de cada cultivo devem se articular de forma a prover a subsistência mínima do grupo doméstico durante o ano agrícola. O feijão branco, também conhecido como "carioca" ou "de arranca", é, entre os Kiriri, plantado em associação com o milho e à mesma época: de fins de abril a fins de maio, sendo a colheita realizada a partir de agosto. Já o feijão "verde" ou "de rama" - o "ligeirinho" - também consorciado com o milho, é plantado em fevereiro, sendo colhido normalmente de março até meados de julho. A mandioca, cultivo de ciclo razoavelmente longo - de um ano e meio a dois -, é colhida nos meses de junho, julho e agosto, quando principiam as "farinhadas".

Os Kiriri dispõem atualmente de casas-de-farinha motorizadas, comunitárias, implantadas pela Funai, que progressivamente substituíram as manuais, de propriedade familiar. Nestas novas unidades, cada grupo doméstico processa livremente a sua produção, pagando uma taxa de utilização - ao órgão tutelar ou aos seus administradores, no caso, os conselheiros, em cada núcleo - correspondente em farinha, ao óleo consumido.

Seguindo o padrão camponês regional, a família nuclear kiriri é a unidade básica de produção e consumo, e o trabalho de todos os seus membros, desde a infância, é constante e necessário à sua reprodução sócio-econômica. A diversificação das roças, muitas vezes distantes umas das outras, constitui uma medida de prevenção contra eventuais fracassos numa ou noutra área, tanto em função da escassez de terrenos férteis, quanto da necessidade de melhor aproveitar as diferentes modalidades dos solos disponíveis.

Além do trabalho realizado no âmbito restrito da unidade doméstica propriamente dita, persistem estratégias de cooperação interfamilial, comumente denominadas de "batalhões", ou "adjuntos", nas quais participam, de modo geral, apenas membros do grupo étnico. Trata-se de uma das formas nas quais se reveste a "troca de dias", que, diferentemente do trabalho "contratado", ou "alugado", se caracteriza por uma simetria nas relações entre as partes envolvidas. Com base nos grupos de parentesco, ou de vizinhança, um batalhão reúne um número variado de indivíduos que acordam entre si, de modo que, a cada dia, a roça de um seja trabalhada por todos. Aos denominados "donos" do batalhão - donos da roça a ser trabalhada - compete fornecer a alimentação necessária ao "grupo de trabalho" assim constituído.

Outra forma de "adjunto" observada entre os Kiriri é o "batalhão convocado", que se destina à execução de tarefas eventuais, tais como a construção de casas de moradia, escolas ou mesmo a abertura de novas roças. Para a ocasião, convida-se com antecedência, comparecendo um número significativo de "parentes", vizinhos e amigos, que compartilham da comida e bebida que houver.

Nas roças kiriri, como nas de outros segmentos camponeses da região, é utilizado um instrumental tecnológico que inclui basicamente enxadas, enxadecos, tombador, arado, foice, entre outros. De modo geral, os índios não dispõem de insumos, tais como adubos artificiais ou agrotóxicos ("venenos"). No plantio, observam com freqüência a associação de cultivos e sua sucessão alternada, práticas tidas como adequadas às reduzidas extensões dos terrenos disponíveis para agricultura.

Dada a exigüidade de bens de produção, o fator solo se reveste de especial importância, determinando a produtividade do agricultor. Sem adubos e aditivos para recuperar o solo, a localização e fertilidade naturais da terra são fatores decisivos para os Kiriri.

As atividades do ano agrícola obedecem a uma variação, sazonalmente determinada, da intensidade do trabalho requerido, assinalando uma diferenciação entre os períodos de inverno e verão, que caracterizam o calendário agrícola e, por extensão, o ritmo de vida da região, concentrando ou dispersando a mão-de-obra disponível. Durante os períodos críticos do verão, quando diminui a quantidade de trabalho necessária à manutenção das roças individuais e comunitárias, torna-se muitas vezes imprescindível a recorrência a outras estratégias de reprodução, sendo muito comuns, nestas épocas, práticas como a "empreitada" ou a "diária" - formas de assalariamento - e mesmo a migração
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